Após tragédia em escola, França anuncia medidas para identificar transtornos mentais entre estudantes
A morte a facadas de uma inspetora de uma escola por um aluno no nordeste da França na terça-feira (10) chocou o país. O caso é o último de uma série de violências que vêm sendo registradas em estabelecimentos de ensino. Em reação, o governo francês anunciou, nesta sexta-feira (13), medidas preventivas para combater as violências, entre elas, um protocolo para a detecção de problemas psicológicos e psiquiátricos em menores.
O desafio é imenso, mas a ministra sa da Educação, Elisabeth Borne, garante que essa é uma das pistas para lutar contra a onda de violência em escolas do país. "Estamos trabalhando com o Ministério da Saúde para reforçar a identificação de jovens em dificuldade", afirmou nesta sexta-feira, após uma visita a uma escola primária em Saint-Quentin, no norte da França.
Borne prevê que até o final do ano cada estabelecimento de ensino da França será equipado com "um protocolo de identificação e gerenciamento de situações de sofrimento psicológico entre jovens". "Se um jovem for detectado pela Educação Nacional e apresentar problemas psicológicos, psíquicos ou até psiquiátricos, deve haver uma forma de prioridade em seu atendimento para garantir seu acompanhamento, especialmente nos centros médicos psicológicos", reiterou.
O plano anunciado prevê implantar um modelo nacional de identificação e intervenção precoce. Para isso, serão mobilizados estudantes do setor da saúde, que atuarão em instituições de ensino, além da formação de 300 mil socorristas em saúde mental até 2027.
A iniciativa de Borne já suscita protestos entre professores e trabalhadores do setor da saúde. "Sem recursos financeiros, não fica claro como isso poderá funcionar", diz Catherine Nave-Bekhti, do sindicato CFDT Educação à info. "Não podemos colocar o peso deste desafio unicamente sobre os profissionais que já estão atuando", reitera Sophie Vénétitay, do sindicato Snes-FSU.
Outras medidas polêmicas
Poucas horas após a morte da inspetora em Nogent, no nordeste da França, o primeiro-ministro François Bayrou anunciou a proibição da venda de todos os tipos de armas brancas a menores. O chefe de governo prometeu que a medida entrará em vigor rapidamente, nas próximas duas semanas.
A iniciativa é criticada pela facilidade de obtenção de facas e outros objetos pontiagudos que podem ser usados em ataques. O aluno que matou a inspetora na terça-feira utilizou uma faca de cozinha que encontrou em sua própria casa.
Bayrou também quer testar a instalação de portas detectoras de metal nas entradas das instituições de ensino. A medida que exigiria o desembolso de milhões de euros e a contratação de profissionais que gerenciem essas portas detectoras de metal.
A proposta foi rechaçada até mesmo pelo ex-primeiro-ministro Gabriel Attal, líder dos deputados do partido centrista Renascimento. "Uma falsa boa ideia", afirmou, fazendo um apelo em prol do "reforço do arsenal repressivo" e por "agir para evitar a escalada de violência".
Já o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou nesta semana sua intenção de proibir o o às redes sociais a menores de 15 anos. O líder centrista defende que a medida seja debatida por todos os países da União Europeia.
Caso as discussões não avancem, Macron pretende tomar a decisão unilateralmente "daqui a alguns meses". O presidente considera que as redes sociais contribuem para uma "epidemia de assédio" e "problemas de comportamento" entre os menores.
Ataque chocou a França
A tragédia suscita uma imensa comoção na França. Quentin G., de 14 anos, esfaqueou a inspetora Mélanie G., de 31 anos, até a morte na terça-feira. O crime ocorreu durante uma revista policial na entrada da escola Françoise-Dolto, em Nogent, uma pequena cidade de 3,5 mil habitantes no nordeste da França.
O adolescente foi imobilizado pela polícia no local do ataque e detido. A inspetora chegou a ser levada com vida ao hospital, mas não sobreviveu aos ferimentos.
Quentin foi indiciado por homicídio qualificado e está em prisão preventiva. Ao ser interrogado por investigadores, ele indicou que tinha intenção de matar "qualquer" inspetora da escola, e não especificamente Mélanie. O garoto evocou uma vontade de vingança após ter sido repreendido, na semana ada, por uma inspetora por beijar a namorada dentro da escola.
Em coletiva de imprensa na quarta-feira (11), o procurador Denis Devallois afirmou que Quentin não apresenta "sinais de um possível transtorno mental" e "não expressa arrependimento". Segundo ele, o adolescente também tem "fascínio pela violência e pela morte, bem como pelos personagens mais sombrios de filmes e séries de TV".
"Ele joga videogames violentos sem ser viciado" e "usa raramente as redes sociais", completou o promotor, afirmando que Quentin mencionou "perda de referências" em relação "ao valor da vida humana".
De acordo com o Ministério Púbico, Quentin pode ser condenado a até 20 anos de prisão.