Inflação faz Bolívia se afundar em crise econômica; bloqueios nas estradas acirram atritos políticos
A Bolívia está se afundando na crise econômica. Desde o início do ano, os preços aumentaram quase 10%. Pelo menos 17 pessoas ficaram feridas na terça-feira (10) em confrontos no sul da Bolívia entre apoiadores do ex-presidente Evo Morales, que estão bloqueando estradas, e moradores que tentaram forçar a agem, segundo informou a polícia à AFP.
Com informações do correspondente da RFI em La Paz, Nils Sabi
No centro de La Paz, o mercado de Sopocachi já viveu dias melhores. Neste início de tarde de junho, os clientes são poucos, alguns vendedores até tiram uma soneca, enquanto outros reorganizam suas barracas, como Magali. "Está vindo menos gente. Com a economia do país tão mal, as pessoas vêm com menos frequência", explica ela.
Uma situação que afeta tanto os consumidores quanto os comerciantes. Estes últimos realizam manifestações regulares para exigir soluções do governo, mas até o momento sem sucesso.
Desde o início do ano, os preços aumentam de forma constante e as margens dos comerciantes estão cada vez menores. É o que explica Sonia, vendedora de legumes: "Quase não estamos ganhando mais nada. Entre o preço do atacadista e o valor que eu peço, eu mal faço 15 centavos por venda."
Bloqueio das estradas
A alta nos preços é em parte devido aos bloqueios de estradas que acontecem há cerca de dez dias no país, o que também levou à escassez de alguns produtos. A autoridade nacional de estradas contou 29 bloqueios em todo o país na terça-feira.
Em resposta, o governo estabeleceu um corredor aéreo entre Santa Cruz e La Paz para abastecer a capital, principalmente para carne e óleo. Mas, por enquanto, Sandra, uma cliente, não vê os efeitos. "Nós queremos arroz, açúcar e óleo, mas não tem. Eles não querem mais nos vender, porque não foram abastecidos. Eles dizem que logo vai chegar, mas por enquanto, nada", lamenta ela.
Desde então, os protestos se expandiram para uma revolta mais ampla contra a gestão do presidente Luis Arce em relação a uma grave crise econômica, marcada pela escassez severa de moeda forte e combustível.
Dois policiais estavam entre as pessoas feridas por pedras, bastões e outros projéteis na região de Potosí.
Os demais feridos eram moradores locais, de acordo com César Limbert Choque, porta-voz da polícia de Potosí.
Os confrontos ocorreram na cidade mineradora de Llallagua, onde a polícia está planejando agir em breve para restaurar a ordem, disse ele.
Morales acusado de terrorismo
O governo o acusa de tentar sabotar as eleições ao fazer apelo para os bloqueios, visando semear o caos.
Na segunda-feira, o procurador-geral disse que Morales está sendo investigado por "terrorismo" por supostamente incitar os protestos.
O primeiro presidente indígena da Bolívia está refugiado em seu reduto central de Chapare desde outubro para evitar a prisão por acusações de tráfico de menores, por seu suposto relacionamento sexual com uma adolescente de 15 anos, com quem ele é acusado de ter tido um filho enquanto estava no cargo. Ele nega as acusações.