Lula recebe lenço palestino ao chegar a Paris e adota o símbolo em gesto político
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a Paris no início da tarde desta quarta-feira, dando início à primeira etapa de uma visita de seis dias à França. Na chegada ao hotel, Lula foi recebido por um grupo de militantes do núcleo local do PT e presenteado com um keffiyeh, tradicional lenço palestino.
"Eu gritei 'Palestina livre', e ele abriu um sorriso", contou a jornalista e escritora Marcia Camargos, que presenteou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com um keffiyeh, tradicional lenço palestino. O presidente ajeitou o lenço em torno do pescoço e entrou com ele na recepção do hotel. Na terça-feira, Lula voltou a chamar a ofensiva israelense na Faixa de Gaza de "genocídio".
Militantes do Partido dos Trabalhadores (PT) deram as boas-vindas a Lula e mencionaram pautas que consideram prioritárias, como o fim da guerra na Faixa de Gaza e avanços nas negociações ambientais.
Na quinta e sexta-feira, Lula participará de diversos compromissos com o presidente Emmanuel Macron, dentro da programação oficial de uma visita de Estado, durante a qual será homenageado, participará de um fórum empresarial e de eventos culturais.
A visita ocorre em um momento de estreitamento das relações bilaterais, com a ampliação de parcerias nas áreas de transição energética, minerais críticos, inteligência artificial e cooperação ambiental.
O apoio mútuo será reafirmado tanto durante a Conferência da ONU sobre os Oceanos, que acontece em Nice, de 7 a 9 de junho, quanto nos preparativos para a COP30, em Belém. Lula e Macron devem uma declaração conjunta sobre o meio ambiente.
Nas redes sociais, Lula escreveu uma mensagem a Macron: "Chego hoje a Paris, onde começaremos a escrever a nossa próxima página juntos. (...) Será um grande prazer reencontrá-lo! Vamos juntos fortalecer a cooperação e a amizade entre nossos países e povos, que já dura 200 anos!", afirmou o petista.
Energia e infraestrutura
A delegação brasileira, composta por oito ministros e alguns parlamentares, é proporcional ao peso político e econômico do país na América Latina e dos investimentos que o governo brasileiro pretende atrair em setores estratégicos, defendeu o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, na chegada a Paris. "Trazendo os seus ministros, ele [o presidente Lula] integra os ministros das suas mais diversas áreas à economia global e, consequentemente, atrai mais recursos para o Brasil", afirmou Silveira, em uma breve declaração à imprensa.
Na sexta-feira, o ministro irá se reunir com o presidente da EDF, líder mundial em energia nuclear, com 58 reatores nucleares sob sua gestão na França. Silveira disse apresentará ao presidente da gigante energética sa o que o governo brasileiro tem feito para garantir a estabilidade dos investimentos estrangeiros no país. A EDF tem ampliado a fatia de investimentos em energias renováveis, solar e eólica, no Brasil. A filial nuclear, Framatome, forneceu os equipamentos instalados nas obras em curso na usina Angra 3, e o governo brasileiro tem interesse em levar levar este projeto adiante. "É uma obra que já tem uma sinergia muito grande", completou.
O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, falou dos interesses de sua pasta nesta visita de Estado. "Queremos ampliar os voos da Air para o Brasil. Vamos nos reunir com a CMA CGM [uma das maiores empresas de transporte marítimo e logística do mundo, com sede em Marselha], que deve apresentar em torno de 5 a 6 bilhões de investimentos no setor portuário no Brasil", detalhou o ministro. Costa Filho ainda citou reuniões com representantes da Vinci, concessionária aeroportuária sa que, segundo ele, tem interesse em aumentar os investimentos nos aeroportos brasileiros. Nos encontros com representantes do setor aéreo, o Brasil quer ampliar as perspectivas de exportação do SAF, como é chamado o Combustível Sustentável de Aviação.
Divergência sobre o Acordo UE-Mercosul
Sob a liderança de Lula no Brasil e de Macron na França, os dois países têm demonstrado forte alinhamento em diversas pautas internacionais. De críticas contundentes aos ataques de Israel na Faixa de Gaza à defesa da regulação das big techs, ando pelo apoio à democracia e ao fortalecimento de instituições multilaterais nas áreas de comércio e saúde, os dois presidentes compartilham uma visão semelhante. Esse alinhamento ganha ainda mais relevância diante do protagonismo de Donald Trump nos Estados Unidos, que tem gerado apreensão em várias capitais europeias.
Apesar dessa sintonia em temas globais, um ponto de atrito persiste: o Acordo Mercosul-União Europeia. Lula pretende usar sua visita a Paris para tentar convencer Macron a apoiar a ratificação do tratado. No entanto, o governo francês reafirmou sua posição contrária ao acordo nos moldes atuais, negociados pela Comissão Europeia. Para Macron, o texto ainda não atende às exigências ambientais e de proteção ao setor agrícola francês, o que mantém o tratado como um obstáculo nas relações bilaterais.