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Pelúcia do papa? Leão 14 renova vitrines do comércio religioso no Brasil

Imagem gerada por inteligência artificial de um leão de pelúcia usando roupas de papa - Arte/UOL
Imagem gerada por inteligência artificial de um leão de pelúcia usando roupas de papa Imagem: Arte/UOL
do UOL

Clara Assunção

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

01/06/2025 05h30

Camisetas, livros, incensos, e quem sabe até um leão de pelúcia com o tradicional solidéu branco: a eleição de Leão 14 renovou as vitrines de produtos religiosos no Brasil. Grandes e pequenos comerciantes relatam aumento na procura por artigos ligados ao pontífice após o conclave, no início de maio, apontar Robert Prevost como o novo líder da Igreja Católica.

O que diz o comércio religioso

Camisetas, canecas e livros com a imagem do novo papa e frases que proferiu estão em produção ou já disponíveis em pontos de venda físicos e virtuais. Na loja virtual Artigos Católicos Sagrada Família, Gilmara Pereira da Silva Barros, dona do pequeno negócio estruturado em sua residência, no Jaraguá, zona norte da capital paulista, conta que já encomendou livros sobre o papa. A depender da demanda, também prepara o estoque para receber camisetas, canecas e chaveiros que fizeram sucesso com a imagem de Francisco.

As vendas são feitas por meio de plataformas como Shoppe e Mercado Livre e pelo próprio site da marca. A expectativa de Barros é positiva não apenas pela nomeação do papa, mas também pela comemoração do Jubileu, o "Ano Santo" da igreja, celebrado a cada 25 anos.

O pessoal acaba pedindo principalmente livros [do papa] para estudos. Já tem pessoas procurando por eles. Acredito que por conta do Jubileu e do novo papa, as vendas darão uma levantada.
Gilmara Pereira da Silva Barros, dona da loja Artigos Católicos Sagrada Família

Editora confirma aumento das vendas. Um dos livros já disponíveis para venda começou a ser preparado pela editora católica Paulus logo após a nomeação. Padre Guilherme César da Silva, diretor de difusão da companhia, disse que já na ocasião houve um aumento significativo na procura por conteúdos relacionados ao papa. A obra "Leão XIV — o novo papa" chega às livrarias físicas e online ainda neste mês como a primeira biografia traduzida do francês para o português.

A receptividade do público tem superado nossas expectativas. Em apenas 48 horas de pré-venda, já comercializamos 6.500 exemplares, o que confirma o grande interesse por essa edição. A princípio, nossa tiragem seria de 20 mil cópias, mas visto a excelente procura, atualmente será de 35 mil exemplares.
Padre Guilherme César da Silva, diretor da Paulus Editora

Compra mira também camisetas e canecas. Danilo Diamantino, responsável pela loja Use Paz e Bem, com sede em Brasília e fornecimento para todo o país, também já está em processo final de desenho da próxima coleção que trará camisetas e canecas estampadas com a imagem ou frases de Leão 14, mas dentro da proposta da marca de trazer jovialidade e diferenciação nesse concorrido mercado.

O papa já tem frases que impactam os católicos. Trazer um produto com o que ele vem falando, para pessoas que já abraçam o santo padre, traz uma movimentação muito boa de vendas também
Danilo Diamantino, dono da marca Use Paz e Bem

Incenso da primeira missa do papa Leão 14

A demanda por novos produtos deve crescer conforme o papa fizer mais aparições públicas e sua imagem se consolidar junto aos fiéis. Parte dos comerciantes mais experientes do setor avaliam que a produção ainda é incipiente e que os artigos relacionados ao novo pontífice ainda dependerão de mais momentos públicos do líder da Igreja Católica.

Apesar da eleição no dia 8 de maio, o início do papado aconteceu oficialmente dez dias depois, quando Leão 14 celebrou sua primeira missa. O ato contou de perto com a participação de Martinho Rocha, o criador do incenso idealizado e usado na consagração de Leão 14 como símbolo de oração sobre o túmulo do Apóstolo Pedro e outros patriarcas.

Durante a celebração, o incenso que criamos continha grãos de outros incensos abençoados pelos Papas Bento 16 e Francisco, simbolizando a continuidade do ministério petrino. Como brasileiro e católico, senti imenso orgulho em ver um produto nosso sendo parte da liturgia papal. Este momento representa o reconhecimento de uma jornada que começou há mais de 20 anos
Martinho Rocha, empresário

Fundada em 2002 por Rocha, a empresa Milagros revende seus incensos para o Vaticano desde 2007. O produto foi encomendado inicialmente para a canonização de Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro, realizada durante a visita do papa Bento 16 ao Brasil. O aroma encantou o então líder da Igreja Católica. Meses depois, o produto ou a ser fornecido para a Sacristia Pontifícia.

Hoje, a Milagros, com sede em Lorena (SP), atende quase 75% das paróquias, seminários, mosteiros e santuários do Brasil, incluindo o de Aparecida. A empresa também registra um crescimento médio de 30% ao ano, exportando de incensos a carvão de acendimento instantâneo, pinças, incensários e turíbulo para países da Europa, Estados Unidos e Austrália.

Por sua experiência, Rocha acredita que produtos que façam uma conexão simbólica entre o animal leão e o Papa Leão 14 têm potencial de sucesso. "Desde que desenvolvidos com bom gosto, respeito e fundamentação teológica", observa.

Ao desenvolver o incenso 'Pacem in Terris', não exploramos diretamente a imagem do leão, mas nos inspiramos na mensagem de paz que pela Providência foi enfatizada pelo papa. Existe demanda por produtos que permitam aos fiéis estabelecer conexão com o novo pontificado.

A ideia de uma pelúcia de leão com o solidéu branco ainda não chegou às vitrines, mas já circula entre comerciantes como uma aposta promissora de venda, especialmente entre o público jovem e familiar. "Já vejo vários posts na internet relacionando o Leão 14 à figura de um leão. Não duvido que em breve veremos um bicho de pelúcia com o solidéu branco na cabeça. Se isso pegar, vai vender em todo tipo de loja", diz o empresário Luiz Fernando de Abreu Ribeiro, proprietário da loja Clero Brasil, no mercado há 28 anos.

De olho no momento que se abre. Ribeiro atende paróquias de todo o país com terços, Bíblias, imagens e materiais litúrgicos. Ainda não há produtos relacionados ao papa Leão 14 na loja, mas o empresário está atento à cruz, ao anel e à vestimenta do pontífice. O comerciante reconhece que momentos históricos, como a eleição de um novo Papa, naturalmente aquecem o mercado e que muitas paróquias devem renovar seus itens litúrgicos para marcar o início do novo pontificado.

Como está o mercado de artigos religiosos

Aquecimento por outras influências. A empresária Ana Paula Ribeiro Cury, proprietária da loja Santo Santo Santo, não tem produtos relacionados ao papa Francisco e também não prevê nesse início itens de Leão 14. Ela também acredita que o comércio do setor ganha impulso com o pontífice e o Jubileu, mas vê nesse aquecimento um reflexo de movimento locais, como acampamentos e influenciadores da igreja católica, como o Frei Gilson — na internet há pelo menos uma década e com 9,4 milhões de seguidores, apenas no Instagram.

Ana Paula Ribeiro Cury  - Divulgação - Divulgação
Ana Paula Ribeiro Cury abriu a loja Santo Santo Santo, em São José do Rio Preto (SP), em 2016; faturou R$ 1,6 milhão em 2021
Imagem: Divulgação

O setor vem em crescimento desde a pandemia. Cury diz que o comércio de artigos religiosos também vem se expandindo desde a crise sanitária de Covid-19. Nesse período, o faturamento da Santo Santo Santo dobrou, ando de uma média de R$ 72 mil por mês para R$ 162 mil por mês. Desde 2022, a empresa iniciou sua expansão nacional por meio de franquias. Ao todo, há 16 já operando e mais seis para serem lançadas no segundo semestre deste ano.

A fé é atemporal, não tem moda. Só que a grande virada de fase veio na pandemia e continuamos em ascensão. Conclave, papa, ano santo ajudam sim, indiretamente. É como existem a 'Coca-Cola e a Pepsi'. Só que estamos o tempo todo ouvindo falar da Coca-Cola. Automaticamente as pessoas consomem mais essa marca. O assunto religião católica ficou em alta, muito forte, por quase um mês. Então é lógico que respingue em nós.
Ana Paula Ribeiro Cury, dona da Santo Santo Santo

O momento também traz à memória o contraste entre pontificados recentes. Enquanto Bento 16 foi apelidado por lojistas de Roma como "o papa que não vende", Francisco teve papel central na revitalização do comércio religioso, inclusive de pequenos negócios. Gilmara, da Sagrada Família, conta que, mesmo após a morte de Francisco em abril, a venda de chaveiros com sua imagem voltou a crescer. Agora, Leão 14 assume o desafio de manter essa "graça" entre fiéis e lojistas.

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