Pentágono alerta para ameaça 'iminente' de ação militar da China na região Ásia-Pacífico
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, acusou neste sábado (31) a China de estar se preparando "para possivelmente usar força militar" na região da Ásia-Pacífico ? prioridade estratégica de Washington em meio ao aumento das tensões geopolíticas.
"A ameaça representada pela China é real e pode ser iminente", declarou Hegseth durante o Diálogo de Shangri-La, em Singapura, o maior fórum de segurança e defesa da Ásia. A declaração foi feita em meio a uma crescente disputa comercial e diplomática entre EUA e China desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca.
Segundo Hegseth, Pequim "deseja dominar e controlar" a região e tem realizado treinamentos diários com foco em uma possível invasão de Taiwan, aumentando as manobras militares ao redor da ilha. Para ele, a China está se preparando de forma "clara e credível" para alterar o equilíbrio de poder na região Ásia-Pacífico à força.
O secretário também denunciou o aumento de incidentes envolvendo embarcações chinesas no Mar do Sul da China, acusando o governo chinês de ocupar e militarizar ilegalmente ilhas e recifes reivindicados por vários países, entre eles as Filipinas.
China rebate acusações e fala em "provocações"
Apesar de contar com representantes de todo o continente asiático e de outras partes do mundo, o fórum deste ano não teve a presença de autoridades chinesas de alto escalão.
O contra-almirante chinês Hu Gangfeng, que representou o país, classificou as declarações dos EUA como "acusações infundadas" voltadas a "semear discórdia, provocar confrontos e desestabilizar a região".
EUA querem mais protagonismo militar de aliados asiáticos
Washington considera a região Ásia-Pacífico sua prioridade estratégica, e que os EUA estão reposicionando suas forças para conter possíveis agressões da China.
"A América está de volta ao Indo-Pacífico, e viemos para ficar", disse Hegseth. Segundo ele, os aliados dos EUA na região devem reforçar com urgência suas capacidades de defesa.
Ele citou a Europa como exemplo. "Graças ao presidente Trump, nossos parceiros asiáticos devem se inspirar no que a Europa tem feito, servindo como um novo modelo", afirmou.
Alguns países europeus, como a Alemanha, anunciaram aumentos expressivos em seus orçamentos militares, com a meta de chegar a 5% do PIB ? motivados, em parte, pela ameaça de Trump de retirar os EUA do compromisso com a defesa da Europa via Otan.
Presente no fórum, a chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, afirmou que o bloco europeu "mudou de postura e reformulou sua estratégia de segurança, transformando o projeto europeu em uma iniciativa de paz respaldada por uma defesa sólida".
Macron defende alianças asiáticas e cobra postura da China
As tensões entre China e Estados Unidos se intensificaram com a volta de Trump à presidência, que impôs tarifas recordes sobre produtos chineses.
Na sexta-feira (30), o presidente francês, Emmanuel Macron, foi o primeiro líder europeu a abrir oficialmente o fórum. Em seu discurso, Macron defendeu a construção de "novas alianças" com parceiros asiáticos para evitar que esses países se tornem "vítimas colaterais das decisões das superpotências".
Macron também cobrou da China um papel mais ativo na segurança internacional. "Se a China não quer que a Otan atue na Ásia, então deve impedir a Coreia do Norte de participar diretamente do conflito na Europa, como tem feito ao apoiar a Rússia na guerra contra a Ucrânia", disse.
Em resposta, a embaixada chinesa em Singapura classificou como "inaceitáveis" as comparações feitas por Macron entre a situação de Taiwan e a da Ucrânia. "São realidades totalmente diferentes e não podem ser comparadas", afirmou em nota. Para o governo chinês, "Taiwan é parte indivisível do território nacional".
Macron havia alertado que, se a Rússia for autorizada a tomar territórios da Ucrânia sem punição internacional, "o que se dirá se algo semelhante acontecer com Taiwan?"
(Com AFP)