Casal que barrou personal de usar banheiro feminino diz que 'queria ajudar'
Os alunos gravados cometendo agressões de viés transfóbico ao tentar impedir uma personal trainer cisgênero de entrar no banheiro feminino de uma academia no Recife afirmaram que estavam "tentando ajudar" a mulher.
O que aconteceu
Karolaine Klecia da Silva diz que não cometeu crime e que não foi desrespeitosa. "Pelo porte físico dela, pela aparência, só pensei que ela fosse uma pessoa que se identificasse de outra forma. Em nenhum momento eu cometi nenhum crime nem fui desrespeitosa. Na tentativa de você ajudar, as pessoas interpretam de forma errada", afirmou em entrevista à TV Globo.
Marcos Aurélio Mendes Leite diz que "se coloca no papel de vítima". Marido de Karolaine, afirmou que o ato dele foi "simplesmente informativo" e disse que estava "protegendo a esposa" ao intervir na discussão. "Nós nunca fomos discriminatórios com ninguém, nenhum tipo de ser que seja na terra", disse.
Casal abriu boletim de ocorrência por injúria, calúnia e difamação contra a personal e a aluna. Segundo a Polícia Civil de Pernambuco, os dois registraram ocorrência no dia 28. À TV Globo, a mulher afirmou que imagens de câmeras de segurança comprovarão que ela foi agredida pela aluna da personal.
Entenda o caso
Kely Moraes disse que, na segunda-feira, foi confundida com uma mulher trans ao deixar o banheiro feminino. A mulher teria dito que a personal não poderia estar ali. O caso ocorreu na unidade da praia da Boa Viagem, na zona sul.
Ela [a mulher] disse que eu não podia ir ao banheiro, e eu perguntei o por quê. Ela disse 'não é lugar para você' e eu perguntei novamente o porquê. Ela disse que o banheiro de homem era lá embaixo. Disse 'você é trans, mas é um homem'. Eu me alterei um pouco, e minha aluna, que está grávida, chegou e ficou muito nervosa.
Kely Moraes
Um homem se juntou à mulher e disse que Kely não entraria no banheiro feminino, bloqueando a agem. Ele disse que, no andar de baixo, havia um banheiro que a personal poderia usar. Ela perguntou: "Por que eu sou o quê?". O agressor respondeu: "É inclusa, é inclusiva, tá lá embaixo".
Imagens feitas pela vítima mostram o bate-boca entre o homem e a aluna de Kely. "Ela [a mulher] falava com tanta certeza o que eu era [trans], que eu quase mostrei minha identidade para provar que eu era mulher. Depois, entendi que eu não tinha que provar nada para ninguém", disse a personal.
Se eu fosse [trans], o que tem a ver? Por que isso ofende tanto? Eu estava só trabalhando, só queria ir ao banheiro.
Kely Moraes
Kely contou que não é a primeira vez que é vítima de comentários e olhares preconceituosos devido ao seu porte físico. Segundo ela, porém, dessa vez foi mais grave. "Nunca tinha acontecido nada nessa proporção, nada tão violento. Me senti ofendida, humilhada; ela gritava para todo mundo e as pessoas mandavam eu ficar calada. Eu que era a vítima ali."
Personal registrou boletim de ocorrência. Ela contou que foi acolhida pelos funcionários da academia e pela aluna, que a acompanhou até a delegacia de Boa Viagem. Em nota, a Polícia Civil informou que foi registrada ocorrência de constrangimento ilegal, vias de fato e ameaça.
Academia expulsou casal. A Selfit Academias anunciou na quarta-feira que encerrou o contrato dos dois alunos, afirmando que o cancelamento segue "os princípios e valores da empresa".