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Brasileiro que recusou ser papa 'teria dado conta por 27 anos', diz médico

Dona Lila Covas segura imagem de Nossa Senhora Aparecida ao lado do cardeal dom Aloísio Lorscheider na missa em restabelecimento do governador Mário Covas, na Basilica de Aparecida, em Aparecida (SP). 27.01.2001 - Eduardo Knapp/Folhapress
Dona Lila Covas segura imagem de Nossa Senhora Aparecida ao lado do cardeal dom Aloísio Lorscheider na missa em restabelecimento do governador Mário Covas, na Basilica de Aparecida, em Aparecida (SP). 27.01.2001 Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress
do UOL

Do UOL, em São Paulo

23/05/2025 05h30

Fernando Lucchese, cardiologista que cuidou de dom Aloísio Lorscheider, afirmou que ele tinha condições físicas para ser papa por quase três décadas. O cardeal foi eleito no conclave de 1978, mas recusou o posto alegando problemas de saúde e temendo um papado curto. No lugar dele, assumiu João Paulo 2º, que morreu dois anos antes do brasileiro.

O que aconteceu

Ao UOL, Lucchese informou que a saúde de Aloísio só ficou ''bastante comprometida'' em seu último ano de vida. Ele tinha insuficiência cardíaca e morreu aos 83 anos, no dia 23 de dezembro de 2007, em Porto Alegre, por falência múltipla dos órgãos após enfrentar mais de quatro internações naquele ano.

''Ele teria dado conta de assumir por muitos anos'', afirmou o médico. Apesar de conviver com um marcao e oito pontes de safena, o cardeal conseguiu viver uma vida ''normal e tranquila'' até o início do ano de 2007. ''Ele poderia ter sido papa com o marcao e tudo. Nós temos milhares de pacientes com esse dispositivo, nós colocamos 400 deles por ano em pessoas que vivem normalmente'', explicou.

A internação dele no último ano foi muito longa. Ele permaneceu no hospital muito tempo. Então se tivesse vivido até aí como papa, certamente teria que ter renunciado nesse ano, porque não tinha mais condições
Fernando Lucchese

Questionado se poderia haver outra razão para o cardeal ter recusado o cargo, o médico não soube responder. ''Acho que impactado com a morte do papa no mês antes, com apenas 30 dias de pontificado, não sentiu coragem de ir'', avalia. Em setembro de 1978, João Paulo 1º morreu de um infarto após 33 dias no poder.

Lucchese acredita que o brasileiro teria sido um pontífice ''absolutamente inovador e carinhoso''. ''Ele era um homem carinhoso e muito simples. Era um franciscano, tinha o hábito dele. Era um sujeito agradável, aquele que você convive bem, sempre sorrindo, um doce de pessoa. Gostava de futebol também'', relatou o cardiologista.

Eleição foi confirmada por Aloísio

Cardeal Aloísio Lorscheide, em imagem de arquivo - CFFB/Reprodução - CFFB/Reprodução
Cardeal Aloísio Lorscheide com João Paulo 2º, em imagem de arquivo
Imagem: CFFB/Reprodução

História sobre rejeição do papado foi confirmada pelo próprio cardeal em últimos anos de vida. ''Um dia almoçando em minha casa, eu disse a ele: 'Tem gente que para fugir da luta, do trabalho intenso, diz que é cardiopata. Mas o sujeito que fica no lugar dele [João Paulo 2º], vive menos do que ele'. Ele caiu na risada, se virou para mim e disse rapidamente 'mas ele levou um tiro''', relembra.

Ele comprovou. No momento em que ele disse 'mas ele levou um tiro', ele confirmou a história. Então, eu posso dizer que tenho a confirmação da eleição papal de 1978
Fernando Lucchese

Bastidores do conclave daquele ano teriam sido revelados por outro cardeal brasileiro participante. Segundo Lucchese, dom Vicente Scherer, nos seus 90 anos, teria contado aos colegas sobre a quase eleição de Aloísio para papa. ''Em determinado momento, pela idade também, ele se sentiu desobrigado com toda essa história de voto de sigilo.''

Entenda o caso

No conclave de 1978, o primeiro a obter dois terços dos votos foi o cardeal de Fortaleza, dom Aloísio Lorscheider. Ao ser consultado se aceitava, no entanto, ele recusou o cargo alegando problemas de saúde. A história foi relembrada este ano pelo escritor e educador Frei Betto, em um artigo em seu site, durante antes da eleição do papa Leão 14.

O brasileiro era um dos nomes mais fortes, mas articulou junto aos colegas para não ser votado de novo. Segundo o livro do jornalista americano Tad Szulc, ''Papa João Paulo 2º. - A Biografia", as reuniões do conclave haviam chegado em um ime e Aloísio precisou movimentar votos de cardeais latino-americanos e africanos para Karol Józef Wojtyla - que se tornou João Paulo 2º.

O brasileiro só morreu dois anos depois de João Paulo 2º. Neto de alemães, Lorscheider nasceu em Estrela (RS). Ele foi arcebispo de Fortaleza e de Aparecida, além de presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e do Conselho Episcopal Latino-americano. Em 1976, foi nomeado cardeal pelo papa Paulo 6º.

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