O que é xenofobia, crime pelo qual jogador do São Paulo pode ser punido
Damián Bobadilla, volante do São Paulo, foi acusado de xenofobia por Miguel Navarro, do Talleres (ARG). Durante uma discussão na partida pela Copa Libertadores na noite de ontem, Navarro diz que o são-paulino o chamou de "venezuelano morto de fome".
O que é xenofobia?
A xenofobia é um sentimento de antipatia ou repulsa por estrangeiros ou pessoas de culturas diferentes. Essa aversão pode se manifestar de várias formas, como comentários, olhares, tratamentos indiferentes, "piadas" e deboche, por exemplo. Humilhações, segregação (no trabalho ou na escola, por exemplo), marginalização, violência física, moral ou psicológica, atos de terrorismo, vandalismo ou genocídio contra determinadas populações são exemplos de ataques oriundos da xenofobia.
O termo vem do grego xénos, que significa estranho, mais phóbos, que quer dizer medo. Como o "medo do diferente", a xenofobia pode estar relacionada a diferenças sociais, econômicas, históricas, linguísticas, étnicas, religiosas ou culturais. Geralmente, a discriminação acontece porque quem a comete acredita que sua realidade em qualquer um destes campos é superior à realidade dos outros.
A xenofobia pode afetar a saúde mental e o bem-estar das vítimas de várias formas. Quem sofre a discriminação se sente hostilizado, difamado e rejeitado. A exposição contínua à xenofobia pode provocar o desenvolvimento de problemas psicológicos como isolamento, baixa autoestima, transtornos de ansiedade, estresse pós-traumático e depressão. O lateral do Talleres chorou em campo após acusar Bobadilla e também nos depoimentos que prestou à polícia ainda no Morumbis.
Punição a Bobadilla pode ser esportiva e criminal
A Conmebol abriu hoje um processo disciplinar contra o jogador do São Paulo. O Código Disciplinar da instituição indica as punições para estes casos.
Qualquer jogador ou oficial que insultar o atentar contra a dignidade humana de outra pessoa ou grupo de pessoas, por qualquer meio, tendo como motivos a cor da pele, raça, sexo ou orientação sexual, etnia, idioma, credo ou origem, será suspenso por pelo menos dez partidas ou por um período mínimo de quatro meses Artigo 15.1 do Código Disciplinar da Conmebol
Em caso de reincidência, o acusado pode ter a pena amplificada. Neste caso, a Conmebol prevê a proibição de atividades relacionadas ao futebol por cinco anos, ou ainda a aplicação de qualquer medida disciplinar indicada no documento.
Além da punição no âmbito esportivo, Bobadilla pode ser responsabilizado também na esfera criminal. A Polícia Civil de São Paulo irá apurar a ocorrência do crime de injúria racial, ao qual a xenofobia é equiparada. A pena prevista à conduta é de dois a cinco anos de prisão, que pode ser convertida em prestação de serviços comunitários.
Em postagem em suas redes sociais, o jogador afirmou que "nunca quis discriminar ninguém". "Depois do nosso segundo gol, tive algumas discussões com jogadores do Talleres, nas quais primeiro fui ofendido e tratado com um pouco de desdém", disse o jogador. "No calor do momento reagi mal e peço desculpas publicamente".
O São Paulo também pode ser punido por causa do episódio. O Código Disciplinar da Conmebol possibilita sanções adicionais ao clube, levando em conta as circunstâncias do ocorrido. Há possibilidade de imposição de atuar com portões fechados, proibição da entrada de torcedores ou exposição obrigatória de mensagens contra a discriminação.
O clube se manifestou em suas redes sociais na tarde de hoje. "O São Paulo FC reitera que repudia veementemente qualquer manifestação de discriminação, preconceito ou intolerância, seja ela de natureza racial, étnica, nacional ou de qualquer outra forma", diz a postagem. "O clube permanece à disposição das autoridades e das entidades esportivas para quaisquer esclarecimentos adicionais". Sobre Bobadilla, o São Paulo afirmou que o atleta será "devidamente orientado por meio de medidas educativas".
Bobadilla pode ser o 2º jogador suspenso por xenofobia no torneio. Em abril, o uruguaio Pablo Ceppelini foi punido por ato de xenofobia durante o jogo entre Alianza Lima e Boca Juniors, pela pré-Libertadores. No episódio, que aconteceu em fevereiro, o meia do time peruano teria chamado pejorativamente um torcedor do clube argentino de "boliviano". Ceppelini pegou gancho de quatro meses da Conmebol.
*Com informações de matéria publicada em 06/12/2023