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De novas leis a destinos de férias: o poder das novelas na vida das pessoas

Jorginho (Rafael Fuchs) e Lucimar (Ingrid Gaigher) em "Vale Tudo" - Angélica Goudinho/Globo
Jorginho (Rafael Fuchs) e Lucimar (Ingrid Gaigher) em 'Vale Tudo' Imagem: Angélica Goudinho/Globo
do UOL

Pedro Menezes

De Splash, São Paulo

03/06/2025 05h30

Os os ao aplicativo da Defensoria Pública do Rio de Janeiro aumentaram em 300% no último dia 13. O motivo? A novela "Vale Tudo" (Globo), que mostrou a personagem Lucimar (Ingrid Gaigher) usando a ferramenta para regularizar a guarda de Jorginho, seu filho com Vasco (Thiago Martins). A cena fez com que o aplicativo registrasse 4.560 os por minuto.

As novelas e a identidade nacional

Esse fenômeno, em que novelas conseguem sair da tela e movimentar a vida do brasileiro, acontece desde o início dos anos 1970. Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia pela USP, afirma que o uso de valores sociais nas tramas —de forma explícita ou implícita— marca o nascimento da dramaturgia moderna. "Tínhamos o merchandising de produtos que a televisão vende e o merchandising social, que hoje chamamos de valor social", afirma ele.

Com o ar do tempo, autores como Manoel Carlos, Glória Perez, Janete Clair e Benedito Ruy Barbosa se tornaram ícones ao tratar causas sociais nas tramas. Foi o caso da campanha pela doação de medula óssea, pela prevenção contra o câncer de mama e pela luta contra a violência doméstica. Em alguns casos, novelas chegaram a impulsionar até mesmo a criação de leis, como o Estatuto do Idoso.

Do câncer ao desarmamento

Um dos casos mais lembrado de campanha bem-sucedida graças às novelas é a de doação de medula óssea. O Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea teve um aumento de 400% nas inscrições em janeiro de 2001 após "Laços de Família", de Manoel Carlos, mostrar a luta de Camila (Carolina Dieckmann) contra a leucemia mieloide aguda. Quem não lembra da personagem raspando o cabelo ao som de "Love By a Grace", de Lara Fabian?

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Cena em que Carolina Dickeman corta o cabelo ao som de 'Love by Grace'
Imagem: Divulgação/Globo

Outra trama de Manoel Carlos que entrou na luta contra o câncer foi "História de Amor" (1995-1996), que está sendo reprisada atualmente nas tardes da Globo. Na história, Marta (Bia Nunnes) descobre que tem câncer de mama a partir do autoexame, fazendo um alerta e ensinando o telespectador sobre ele. Além disso, campanhas de prevenção foram realizadas na época, o que resultou em um aumento significativo nos exames realizados pelo Instituto Nacional do Câncer.

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Bia Nunnes como Marta Xavier em 'História de Amor'
Imagem: Bazílio Calazans/Globo

Já "A Favorita", de 2008, destacou a conscientização conta a violência doméstica, com o casamento abusivo de Léo e Catarina. Com a trama de João Emanuel Carneiro, houve um aumento de 32% nas denúncias desse tipo de crime, em comparação com ano anterior, segundo a Agência Brasil. Jackson Antunes, que interpretou o marido agressivo, chegou a ser agredido na rua pelas ações de seu personagem. "Me empurrou de tal forma que tive uma trombose na perna", disse o ator ao UOL em 2020.

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Léo discute com Catarina (Lilia Cabral) em 'A Favorita'
Imagem: Globo/Frederico Rozario

"Mulheres Apaixonadas", de Manoel Carlos, contribuiu para a criação da Lei Maria da Penha ao também colocar em pauta a violência doméstica. Após a denúncia que Raquel (Helena Ranaldi) faz ao marido Marcos (Dan Stulbach), a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, no Rio de Janeiro, registrou aumento de 40% nas denúncias de violência. Em 2003, quando o folhetim foi exibido, a pena máxima para agressores era de um ano de prisão. Com a aprovação da lei, três anos depois, ela foi para três anos, permitindo também a prisão em flagrante.

A novela de 2003 também foi responsável por impulsionar a aprovação de outras duas leis. Dóris (Regiane Alves) maltratava os avós na trama contribuindo para acelerar a tramitação do Estatuto do Idoso, que foi aprovado um mês antes do término da novela. A Lei do Estatuto do Desarmamento também foi aprovada após Fernanda (Vanessa Gerbelli) ter sido atingida por uma bala perdida e morrer, deixando Salete (Bruna Marquezine) órfã na novela.

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Regiane Alves foi chamada ao Senado para divulgar o certificado de Cidade Amiga da Terceira Idade
Imagem: Geraldo Magela/Agência do Senado

Já neste ano, a novela "Volta por Cima", de Claudia Souto, viralizou um gesto usado para denunciar violência doméstica. Roxelle (Isadora Cruz) utiliza o sinal criado em 2020 pela Canadian Women's Foundation para pedir socorro. A personagem, que estava sendo mantida em cárcere privado, consegue ajuda. "A ação dos personagens, por si só, já tem um valor social inerente", avalia Mauro Alencar.

A força das novelas não fica apenas nas campanhas sociais. As tramas também podem elevar em até 500% a busca por alguns destinos, segundo o Kayak. Em um levantamento de 2018, o buscador de viagens divulgou que "Império" (Globo, 2014-2015) aumentou em 525% as buscas por Roraima, e "Segundo Sol" (Globo, 2018) incentivou um crescimento de 112% na procura por Salvador, por exemplo.

Os livros mostrados em "Bom Sucesso", novela estrelada por Grazi Massafera, também tiveram aumento de 15% na procura em 2019. Os dados são de uma pesquisa solicitada pelo EXTRA à plataforma Zoom.

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Paloma, vivida por Grazi Massafera, é apaixonada por livros
Imagem: Victor Pollak/Globo

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