Guilherme Cintra: 'IA é continuidade de vieses que já existiam na internet'
(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, o assunto é a entrevista com Guilherme Cintra, economista e diretor de Inovação e Tecnologia da Fundação Lemann. Ele fala sobre o papel da tecnologia na Educação, sobre o uso de Inteligência Artificial na sala de aula, e responde: a IA está nos deixando mais desatentos?)
Que as inteligências artificiais têm vieses não é uma novidade. Alimentadas por bancos de dados feitos por pessoas com diferentes visões de mundo, elas tendem a reproduzir perspectivas contidas nesses conteúdos. Mas não foram ela a inaugurar esse fenômeno.
Para Guilherme Cintra, diretor de Tecnologia e Inovação na Fundação Lemann, a IA apenas continua e reforça algo que já existia na internet. Em entrevista ao Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, o especialista em educação ressaltou que a IA parece, mas não é uma ruptura abrupta nesse sentido.
Usando como exemplo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) - documento que norteia ações na educação básica em todos os campos do conhecimento - Cintra pontua que 60% do texto traz conteúdos gerais e os outros 40% são reservados para adaptações que levam as culturas e a regionalidade em consideração, justamente para evitar um "achatamento cultural". Essa seria uma forma de combater os possíveis vieses contidos nessas ferramentas.
Se você tem muito menos representatividade de determinados elementos culturais e sociais nas bases que treinam a inteligência artificial e alguém usa isso em regiões que não tem representativos para contextualizar sobre aquele local, você pode ter vieses embutidos e estereótipos reforçados dentro do próprio elemento cultural
Guilherme Cintra
IA na Educação
Quando usada na educação, o especialista argumenta que a IA é tida como um elemento de alto risco, que demanda a adoção de medidas complexas. Ele vê principalmente as avaliações como uma área de maior potencial, necessidade e também de grande risco.
Onde eu vejo um risco grande são as avaliações seletivas. Quando você tem inteligência artificial com potenciais vieses, que vem os dados históricos e que vão definir se um aluno entra ou não na universidade, existe um risco muito grande de você incutir um viés em uma coisa que muda completamente a vida do aluno. É um risco alto que a gente tem que considerar
Guilherme Cintra
O especialista conta que na Fundação onde atua, costumam usar IA para verificar a fluência leitora dos estudantes. Contudo, ressalta que essa verificação não deve ser feita para fins de reprovação, por exemplo.
'Não precisamos do nosso cérebro trabalhando para tudo'
Desde que entrou na moda, a inteligência artificial vem sendo usada para facilitar a vida de muita gente. Tem quem esteja usando o ChatGPT para resolver tarefas, planejar as férias e estudar. Mas ela serve para tudo?
Guilherme Cintra, diretor de Inovação e Tecnologia da Fundação Lemann, aponta que utilizar a IA em tarefas simples pode ser positivo, mas não em todos os momentos. O especialista pontuou que mesmo os humanos tendo "uma visão enciclopédica do conhecimento" que faz com que não seja necessário ter o cérebro trabalhando a máxima potência sempre, reduzir etapas pode não ser bom a longo prazo.
'A discussão sobre IA na educação não é nova na China', diz Guilherme Cintra
A meta da China é se tornar líder global em inteligência artificial até 2030. Para alcançar esse objetivo, o país liderado por Xi Jinping traçou um plano ambicioso que está sendo posto em prática desde 2017. As ações incluem também tornar obrigatório o ensino de IA na educação básica.
A partir de 1º de setembro de 2025 - quando se inicia um novo período letivo no país -, estudantes de 6 a 15 anos terão pelo menos oito horas de aulas sobre IA por ano. Começando com uma proposta mais lúdica, à medida em que os alunos forem avançando nas séries, os conteúdos vão se tornando mais complexos, envolvendo aprendizado de máquina, robótica e até mesmo questões éticas e sociais.
Essas discussões todas estão à luz de uma discussão mais ampla da disputa geopolítica em torno da IA, desde proibição de chip até elementos de tarifa, mas mostrando que está claro que educação é importante para esses países como parte de uma estratégia e deveria ser mesmo
Guilherme Cintra
'Precisamos discutir como a IA vai entrar na escola'
A lei 15.100, promulgada em janeiro deste ano, restringiu a presença de dispositivos eletrônicos no ambiente escolar. Na sala, os celulares só poderão ser usados durante atividades pedagógicas. Guilherme Cintra, diretor de Tecnologia e Inovação na Fundação Lemann, avalia, contudo, que essa restrição deve vir acompanhada de uma reflexão maior sobre o uso de tecnologia em sala de aula.
Eu sou a favor da proibição sem fins pedagógicos
Guilherme Cintra
Ele faz distinções entre os desafios encontrados no uso de hardware - como o smartphone - e software - no caso, a inteligência artificial.
A tecnologia estar fora da escola acho que não faz sentido, claro que dependendo da faixa etária, mas na experiência do aluno dentro de uma escola não ter tecnologia para mim não faz sentido porque o mundo que ele vive tem tecnologia. Ninguém vive num mundo sem tecnologia
Guilherme Cintra
DEU TILT
Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.