Governo recolhe três marcas de café torrado impróprios para consumo

O Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) recolheu três marcas de café consideradas impróprias para o consumo humano.
O que aconteceu
Ministério atualizou a lista de cafés impróprios com três marcas: Melissa, Pingo Preto e Oficial. "Desta vez, três marcas foram desclassificadas após análises laboratoriais confirmarem o descumprimento dos padrões estabelecidos" em portaria, diz a pasta em nota (veja os lotes abaixo).
Foram encontradas toxinas e impurezas. "As irregularidades detectadas incluem a presença de matérias estranhas e impurezas acima do limite permitido, bem como níveis de microtoxinas superiores ao tolerado pela legislação vigente", afirma o ministério, que diz já ter "determinado o recolhimento dos produtos".
Tais elementos indicam que os produtos não atendem aos requisitos de identidade e qualidade previstos para o café torrado, motivo pelo qual foram desclassificados.
Mapa, em nota
O ministério orienta os consumidores a deixarem de consumir os produtos "imediatamente". "É possível solicitar a substituição do produto com base nas disposições do Código de Defesa do Consumidor", afirma.
A pasta pede que denunciem essas marcas e lotes se encontrados nas gôndolas. "O Mapa solicita que a ocorrência seja comunicada por meio do canal oficial Fala.BR, com o nome e endereço do estabelecimento onde foi realizada a compra", conclui.
Só 1% de impurezas
Norma permite presença de até 1% de impurezas no café. A legislação brasileira considera como café "o produto obtido exclusivamente a partir da torra dos grãos do fruto do cafeeiro", nas variedades autorizadas, que são: arábica, robusta e canéfora (conilon). A regra permite 1% de impurezas naturais da lavoura, como fragmentos de galhos, folhas e cascas.
É proibida a adição de outros grãos ou sementes. Também são vetados corantes, açúcar, caramelo e borra de café solúvel ou de infusão. Produtos que não contenham café entre os ingredientes não podem ser vendidos como café.
Venda de café fake ocorre em meio à alta de preços do grão. Desde o ano ado, a indústria de café tem reado os custos da matéria-prima aos consumidores. Com a alta dos preços, os produtos fakes se disseminaram.
Como evitar o engano?
Só podem ser chamados de "café" produtos feitos 100% com o grão original. "A portaria 570 versa especificamente sobre café, dizendo o que é e dando algumas regras claras sobre o que pode ser comercializado. Nela está bem claro que o grão beneficiado, cru ou torrado, tem que ser do gênero Coffea. Algumas pessoas querem colocar no mercado café de açaí, ou café feito de cevada, e qualquer coisa que não seja Coffea não pode usar a palavra café", diz Celírio Inácio, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café).
Se a embalagem contém "polpa de café", também não segue a lei. "O café é o endosperma do gênero Coffea. Quando você colhe o café, você tem a semente e tem algumas partes como a casca e a polpa do café. A polpa é um líquido que sai com a casca e deveria ser descartada, para ser usada só a semente, o grão. Pela legislação, é errado chamar de café porque, na verdade, é uma impureza dele", diz o diretor da Abic.
A fraude acontece quando você coloca a palavra café para ter benefício econômico e o consumidor não consegue saber sobre isso. Acompanhamos há alguns anos essa tentativa de fazer um produto de 'café' que não seja café, mas diante do aumento do preço eles elevaram o nível de criatividade e criaram produtos ilegais.
Celírio Inácio, diretor da Abic
Selo concedido pela Abic é forma de evitar golpe. "O último estágio entre o consumidor e o supermercado são as certificações, para saber se aquele café é adequado ao consumo. Toda essa regra foi feita junto ao Ministério da Agricultura para que o consumidor seja defendido."
Se o café já foi testado e aprovado, o selo fica estampado na embalagem com um QR Code. Ele dá o a detalhes sobre o produto —inclusive técnicos, como seu ponto de torra.
[O café falso] é um produto contra o consumidor, a impureza é extremamente alta e eles deliberadamente apresentam com embalagens muito parecidas, às vezes até imitação, de produtos já conhecidos pelo consumidor, com a intenção clara de fazer com que ele seja enganado e leve aquele produto sem prestar muita atenção.
Celírio Inácio, diretor da Abic
A certificação é feita por empresa contratada pela Abic. Ela vai a um ponto de venda, recolhe unidades do produto e envia para laboratórios que fazem a avaliação. Mesmo cafés certificados podem perder o selo em avaliações posteriores, por isso o o ao QR Code impresso é ainda mais importante, já que mostra as últimas informações sobre o café. São cerca de 5 mil avaliações ao ano. Veja as marcas aprovadas no teste de pureza da Associação.
Empresas não são obrigadas a ter selo para ter legitimidade. "A empresa que quer ser certificada avisa que seu produto está sendo comercializado e indica em quais supermercados estão vendendo. Aí a Abic vai, no seu tempo, faz os testes de pureza e qualidade e emite o laudo pra dizer se está ok."
Se (o café) é aprovado, imediatamente ganha a possibilidade de usar o selo. Mas dentro do roteiro que nós temos, de manutenção desse selo, o produto é averiguado constantemente nas prateleiras. Acontece pelo Brasil todo e o produtor não sabe se vai ser na capital ou no interior.
Celírio Inácio, diretor da Abic
Ingredientes "intrusos" são permitidos no café em nível baixíssimo. Isso porque, por ser um produto vindo de lavouras, é considerado normal que uma pequena quantidade de folhas e cascas, do próprio cafezal, acabem no produto. Ainda assim, se a quantidade for superior a 1%, o café já é considerado inadequado.
Caso algum produto testado pela Abic represente risco à saúde, o Mapa é notificado. "Temos um canal direto com eles e avisamos quando existe impureza. Os produtos são colocados em uma listagem para que os órgãos competentes façam suas verificações."