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Exaltação da magreza e mentiras sobre nutrição: redes acionam gatilhos de transtornos alimentares

Informações erradas sobre alimentação se multiplicam nas redes - iStock
Informações erradas sobre alimentação se multiplicam nas redes Imagem: iStock

01/06/2025 12h13Atualizada em 01/06/2025 12h43

A exaltação da magreza e a disseminação de informações falsas sobre nutrição nas redes sociais estão contribuindo para o aumento dos transtornos alimentares entre jovens vulneráveis ? e dificultando ainda mais o tratamento dos casos. "Hoje não se trata mais um transtorno alimentar sem falar sobre redes sociais. Elas se tornaram um gatilho, um acelerador e um obstáculo à recuperação", resume Carole Copti, nutricionista em Paris.

A exaltação da magreza e a disseminação de informações falsas sobre nutrição nas redes sociais estão contribuindo para o aumento dos transtornos alimentares entre jovens vulneráveis - e dificultando ainda mais o tratamento dos casos. Na França, cerca de 1 milhão de pessoas - principalmente mulheres entre 17 e 25 anos - sofrem de anorexia, bulimia ou compulsão alimentar.

"Hoje não se trata mais um transtorno alimentar sem falar sobre redes sociais. Elas se tornaram um gatilho, um acelerador e um obstáculo à recuperação", resume Carole Copti, nutricionista em Paris.

Embora os transtornos alimentares tenham causas diversas (biológicas, psicológicas e sociais), especialistas vêm alertando para o impacto "devastador" das redes. "Não são a origem do problema, mas podem ser o estopim", explica a psiquiatra Nathalie Godart, da Fundação Saúde dos Estudantes da França.

Ao promoverem dietas extremas, restrições severas e uma obsessão com exercícios físicos, as redes sociais ampliam os riscos à saúde dos jovens - especialmente para os que já se sentem inseguros.

Conteúdos perigosos

Tendências como a #skinnytok reúnem mensagens violentas e culpabilizadoras, incentivando a redução drástica de alimentos.

"É uma porta de entrada", alerta a enfermeira Charlyne Buigues, especializada no tema. Ela denuncia a exposição de vídeos com adolescentes extremamente magras ou mostrando métodos de "purga", como uso de laxantes ou indução ao vômito. "Essas práticas são normalizadas como formas legítimas de emagrecimento, mas o risco de uma parada cardíaca é real", adverte.

Transtornos alimentares são a segunda principal causa de morte precoce entre jovens de 15 a 24 anos na França, segundo dados do sistema de saúde. Para Copti, as redes criam um ciclo vicioso. "Pessoas com baixa autoestima acabam sendo validadas online por sua magreza, ganham seguidores e curtidas, e isso alimenta o transtorno e prolonga o estado de negação."

Há até casos de monetização. Buigues conta que uma jovem que fazia transmissões ao vivo vomitando recebia dinheiro da plataforma, o que ajudava a custear suas compras.

Dificuldade no tratamento

Dietas extremas, restrições severas e uma obsessão com exercícios físicos  - iStock - iStock
Dietas extremas, restrições severas e uma obsessão com exercícios físicos
Imagem: iStock

Mesmo quando buscam ajuda, os pacientes enfrentam obstáculos. Informações erradas sobre alimentação se multiplicam nas redes e são tratadas como verdadeiras. "As consultas viraram uma espécie de julgamento. Preciso explicar que não se vive com apenas mil calorias por dia, ou que pular refeições não é normal", relata Copti.

Ela diz que enfrenta uma batalha desigual: "Não consigo competir com as horas que am por dia no TikTok."

Nathalie Godart também denuncia a presença de "falsos coaches" com conselhos perigosos - o que pode configurar exercício ilegal da profissão. "A palavra desses influenciadores pesa mais que a de profissionais sérios. É uma luta diária para transmitir mensagens básicas sobre alimentação."

Charlyne Buigues, ativa no Instagram pelo perfil @aucoeurdestca, a boa parte do tempo denunciando conteúdos prejudiciais. "Mas é em vão. Os vídeos continuam online, os perfis raramente são suspensos. É desgastante."

Ela já recomenda a seus pacientes excluírem redes como o TikTok. "Pode parecer drástico, mas enquanto os jovens não forem melhor informados, a plataforma é um risco real."

(Com AFP)

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